segunda-feira, 25 de junho de 2007

Viva São João!! (peripécias da festa junina)



Tudo começou assim:

Às 5h30 da sexta-feira o telefone de casa toca. Era a vizinha. Nervosa, pedia que eu acordasse meu cunhado, pois, segundo ela, tinha um ladrão no prédio e o mesmo já tinha tentado arrombar o seu apartamento. Ela queria que ele ligasse para a polícia. Me perguntei porque ela mesma não fazia isso, mas tudo bem.

Eu tinha acabado de acordar. Lu já estava à minha espera para seguirmos em direção a Coração de Maria e lá passarmos o São João.

Com toda a frieza que sempre tenho nesses casos, e ainda bêbada (de sono, vale ressaltar) acordei meu cunhado. Obviamente, fiquei impossibilitada de sair do apartamento pra não correr o risco de topar com o suposto ladrão, burro, diga-se de passagem, já que tinha conseguido a façanha de se prender dentro do prédio.

Logo pensei: "meu São João vai começar bem..."

Enfim, a polícia não tardou e descobrimos que o ladrão era, na verdade, um maluco que tinha pedido comida e uma moradora, sabidamente (essa sim) louca, abriu o portão pra ele. Não sei como o coitado ficou preso lá e ela não abriu o portão novamente.

Seguimos viagem. Lá chegando fomos fazer o famoso reconhecimento de área. Andando na rua ouvimos as piadinhas rotineiras e uma inédita:

- Tá passando aqui toda hora pra pirraçar, né, mainha?

Não sei ao certo com quem ele falou, provavelmente com as duas, mas a partir daquele momento Lu virou "a pirracenta".

Seguimos, rindo, e logo adiante eu ouço:

- Você é excitante!

O São João sempre me reserva surpresas. Ano passado descobri que eu tinha o "delineamento corpóreo" que o cara da mesa ao lado imaginava, ao me ver sentada.

Mas era era tudo que Lu queria...

Me sacaneou até não poder mais.

- Façamos um trato então, Lu, eu excito e você pirraça.

- Combinado. Fechô!

- Já é!

O dia transcorreu sem mais emoções e fomos nos aprontar pra festa.

Hora do banho. Assim que entrei no chuveiro, pensei: "Ok. Pode trazer o bisturi."

Aquilo não era um banho, era uma anestesia geral. Ainda olhei pra cima para ter certeza que água não caia em cubos.

Já devidamente trajadas, fomos pra rua.

A partir desse momento um fenômeno estranho começou a ocorrer: As mulheres olhavam pra gente com ar de desprezo e os homens pareciam nos enxergar nuas.

Diante desse fato, tudo transcorria dentro da normalidade possível, até que uma figura pitoresca e, talvez consciente do papel ridículo que desempenhava, cismou que eu ria dela.

-Rosana, a mulher tá vindo pra cá...

-É hoje!

Ela encosta.

-Você tá rindo de quê??

- Eu?!? De nada.

-Vai ser bom se eu quebrar a sua cara aqui agora?!? Vai ficar bonito pra você se eu quebrar a sua cara??

Ela só teve o meu silêncio como resposta. Foi embora e não pude conter o riso.

-Rosana, a mulher tá voltando...

-Aimeudeusdocéu!! Eu mereço...

Enquanto isso, já tinha platéia se formando ao nosso redor.

Ela volta com a mesma ladainha de que vai quebrar a minha cara, blá, blá, blá...

Novamente o meu silêncio foi a sua resposta.

Ousada como sou, continuei no mesmo lugar. Ela foi embora.

-Lu, lá vem ela de novo.

Ela passa com o celular na mão, tirando foto da gente, achando que estava disfarçando.

-Lu, a mulher sumiu. Acho melhor a gente ficar de olho na retaguarda... Vamos sair daqui.

Ultimamente, de forma inexplicável, minha retaguarda tem sido alvo de ameaças por parte de mulheres loucas. Já até me ofereceram luvas de boxe por um precinho camarada. Bem, mas essa já é uma outra história...

Saimos. E, como todo bom filme de terror que se preze, não tardou pra avistarmos de novo a mulher, na esquina, surgida do nada e olhando feio na nossa direção. E haja foto!!

-Rosa, vamos começar a posar pra foto?

-Deixa quieto, Lu. A mulher quer pegar a gente de galera. Vamo vazar.

Sumimos na multidão, pra decepção da criatura.

Dançamos boa parte do tempo, em meio aos meus tropeços na rua.

-Porra, meu pé não tem equilibrio nenhum!

-É, Rosa, eu sei que você é uma pessoa desequilibrada.

Bem, não foi bem isso que eu quis dizer, mas também não tive como negar esse fato. Acho também que ela não aceitaria uma explicação anatômica naquele momento.

E a gente andava, sendo constamente assediadas. Comigo a coisa era sempre pior.

- Rosana, você tá demais!

- O que eu posso fazer, Lu?!? Eu tô quieta, esses homens que são loucos. Diga a esse povo que eu tô basiquinha, por favor. (falando de forma bem afetada)

- Gente, Rosana tá basiquinha!(alto)

Ríamos e ela logo desistia. O assédio continuava.

- Amiga, não tem jeito... Você é d'Oxum! Não adianta estar basiquinha. Eles vão mexer do mesmo jeito.

- Ah... Então tá!!

E assim foi até irmos embora.

Hora de dormir. Começamos a conversar na cama e, de repente, solto a pérola:

- O mar está agitado.

- O quê?

Desperto. Sim, eu estava dormindo. Ou melhor... Eu estava em Salvador, na beira do mar.

- Porra, Lu, eu estava em Salvador!!

- Como assim?!?!

-É, eu estava em Salvador. Na orla. Ia entrar no mar, mas ele estava agitado.

- Agora você se teletransporta?? Da próxima vez me leve, viu??

Risadaria geral.

No outro dia decimos ir para Irará, a cidade vizinha, onde mora a minha avó e onde meu irmão estaria.

Era uma chance de matar a saudade dela e de Naizinho, que mora no RJ e, provavelmente, não o encontraria em Salvador dessa vez.

Fomos para o ponto pegar o buzu e ao longe avistamos uma figura carregando algumas folhas arrancadas com raiz e tudo.

Ele se aproximava. Com a sorte que eu ando ultimamente, tinha certeza que ele encostaria.

Ele passa pela gente e olha, justo pra minha cara, e faz sinal de legal com a mão. Respondi.

- Diga aí, meu velho!

Ele parou e tirou, até hoje não sei de onde, um biscoito recheado e ofereceu. Não aceitei.

Ele sentou e encostou na árvore.

-Vocês moram aqui em Coração de Maria?

Comecei a brincar.

- Moramos.

- Estão indo pra Mar...?

Luciana não aguentou.

- Pra onde?!?! Pra marte?

- É! Pra mar...

Até hoje não sei que diabos de lugar era aquele, mas confirmei. Ele aponta pra mim.

- Sou mais você pra tudo na vida. Você é mais esperta. Sou mais você pra namorar, pra casar, pra tudo. Você é mais preparada pra vida. A outra é gente boa, mas é mais devagar.

Lu se indignou.

- É assim, né?

- Você é gente boa, mas é devagar. Você só vai casar daqui a vinte anos. Você vai casar com vinte e cinco anos.

Eu ria. Aquilo era proposta de casamento pra mim e uma praga pra Lu, que só quer casar depois dos 30.

De repente ouço um arrocha tocando em algum lugar. Como sempre, brinquei balançando o corpo pra um lado e para o outro.

- Conheço de longe a mulher que sabe dançar.

- E eu sei dançar, meu amigo?

- Sabe. Sabe sim.

- Valeu.

Pedi pra tirar uma foto. Ele deixou.

O buzu chegou e até agora me arrependo de não ter perguntado o nome dele. Nos despedimos e ele sorriu.

Chegando na cidade minha avó não estava em casa. Tinha ido com meu irmão pra casa da família da esposa dele.

-É, Lu, o jeito é procurar um lugar pra beber enquanto esperamos minha avó chegar.

-É, vamos lá enquanto minha avó não chega.

- Como assim?!?! Você tem parente na cidade??

- Tenho. Minha avó.

- E como é o nome dela?

- Agora você me pegou... (risos)

Ela quer entrar pra família de qualquer jeito.

Caminhamos e uma criatura olha pra minha cara:

- Você olhou pra mim e eu olhei pra você. Foi amor à primeira vista.

Pronto! Daqui a pouco eu já tinha até casamento marcado e não sabia...

Fomos beber na praça.

Apareceram uns vaqueiros na mesa ao lado e Lu ficou noiva de um deles. Pena que até hoje ele não sabe disso...

Voltamos e encontramos minha avó com meu irmão.

Depois dos beijos e abraços, minha avó, pra variar, me leva pra fazer o costumeiro tour pelas casas de todos os primos e primas distantes que ela pensa que eu lembro. Não a desiludo.

- Lembra dela? É minha neta. Sua prima.

- Lembro sim! Tá sumida... Quem é vivo sempre aparece!!

- Como vai? Pois é... (sem graça e sem ter a menor noção de quem se trata)

Lu tomou logo ousadia com minha avó e as duas andavam abraçadas pela rua.


Hora de voltar pra Coração de Maria. Deixamos Irará já sentindo saudades. Lu, especificamente, com saudades do noivo vaqueiro que ela nem sequer chegou a conhecer.

Depois da anestesia geral fomos pra rua.Tomamos um susto. A cidade estava lotada!!

Matei a charada. Era dia de Silvano Sales, o rei do arrocha, auto intitulado "O cantor apaixonado".

Não poderia perder esse espetáculo por nada.

As cortinas do palco se abrem. Dançarinos vestidos de rosa, se rebolando, e os backing vocals (sim, ele tem backing vocals) faziam o coro: "Silvanos Sales, Silvano Sales, o cantor apaixonado"

Totalmente sem ritmo.

Entra o rei do arrocha, as mulheres gritam e a coreografia "come no centro"
Tronco para um lado, quadril para o outro, em sentido anti-horário, dá duas voltas, uma paradinha e volta o corpo para o outro lado.

Ao ver aquele espetáculo lembrei de um amigo que, muito sabiamente, uma vez me disse que algumas pessoas precisam fazer um planejamento familar antes de dançar arrocha acompanhado. Aquilo mostrou ser a mais pura verdade.

Fomos passeando e sobrevivendo aos empurrões enquanto entrava música e saia música e eu, simplesmente, não conseguia perceber mudanças significativas na melodia, sempre com aquele tecladinho ordinário ao fundo e a voz esganiçada do "cantor"(Eu tô careeeenteeeeeee/ Eu tôôô/ Eu tô careeeeeente do seu amooooooooor)

Haja paciência!!

Algumas pessoas me convidaram para dançar e eu, obviamente, recusei. Era demais para minha cabeça dançar arrocha com um total desconhecido.

Entra a outra banda. Karrascos do Forró. E realmente eles fizeram do palco um cadafalso e mataram o forró ali mesmo. Enforcado. Sem dó nem piedade.

A banda era péssima!!

Decidimos ir pra casa.

Voltaríamos pra Salvador no domigo, mas acabou não sendo possível.

Fomos para rua durante o dia e as bandas começaram a tocar cedo. Estávamos de bermuda, camiseta e sandálias havaianas.

- Lu, a gente já fica por aqui mesmo. Assim mesmo.

- Assim?

- É!

- Tá bom!

Ela, fácil, como sempre!

Dançamos forró ao som de músicas variadas, desde os mais sutis elogios às mulheres (dança piriguete/balança piriguete) até letras de profundo teor filosófico (se avexe nãããão/que amanhã pode acontecer tudo/inclusive nada)

Depois foi a vez do Pagod'art, uma banda de pagode.

Apenas cruzei os braços, encostei em um canto e observei, curiosa em saber o que acontecia com a coluna das pessoas ao fazerem aqueles movimentos.

O jeito foi apelar para a garrafa de licor.

Quando vimos que aquilo não acabaria tão cedo, jogamos a toalha, vencidas pelo ritmo e pelas coreografias indecifráveis.

Fomos pra casa.

Eu tropeçando, Lu me segurando e as duas cantando: "Nessa cidade todo mundo é d'Oxum"

Ríamos de tudo e de todos e, principalmente, de nós mesmas.

4 Comments:

iVÃ vELOSO said...

DÁ PARA NOTAR QUE O SÃO JOÃO FOI MARAVILHOSO. FICO FELIZ POR VOCÊ.

moi said...

hahahahahhahahahahhahaahahahahahahahhahahahahahahahahahahahahahahahahahhahahahahahahahahahhahahahahahahah


Só vc mesmo!!!!!!!!!!

Thaís Seixas said...

Só faltou eu lá....agora só no ano que vem! huhuhuhu
bjos

Anônimo said...

necessario verificar:)