
Vontade de vagar a esmo tendo como companhia somente o silêncio.
Na mente só a lembrança do que não vivi.
A vida que não tive. O carinho que me foi arrancado.
A segurança amputada quando ainda não estava preparada para a vida.
Ainda não estou, mas isso não parece fazer muita diferença.
Não agora depois do caminho percorrido.
Em meio a tanta desolação meus olhos se fecharam.
Encontrei alegrias fulgazes.
Muitas pessoas ao redor. Euforia. Risos.
Vazio...
A liberdade estava em minhas mãos.
Quase uma vida toda devotada às responsabilidades do cotidiano.
Depois de concluidas as fases vem a merecida certeza da autonomia.
Será que me iludi em achar que estava apenas vivendo?
Difícil fazer escolhas quando seu mundo é só você mesma.
Nada te impede. Ninguém te condena.
Por dentro somente a vontade de se deixar levar.
É assim que se caminha em uma estrada sem sombras...
Passos perdidos te guiam.
Mas agora as luzes foram acesas e meus olhos rejeitam tamanha claridade e vastidão.
O solo é mais fértil do que eu pensava...
Tristezas, medos e angústias brotam como galhos de uma mesma árvore.
No meio do caminho ela se impõe, majestosa.
Sua sombra me convida, mas meus olhos seguem um único objetivo:
Paz.
Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu.
A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu?
Chico Buarque.